terça-feira, 15 de junho de 2010

Dogville



Inspirado no teatro épico de Brecht, Lars Von Trier traz como proposta estética uma mistura da linguagem da literatura, do cinema e do teatro para a criação do principal conceito de Dogville.
Com uma linguagem alegórica, o filme traz ao ápice questões contemporâneas como a experimentação e a performance, além da forte crítica à sociedade capitalista, onde o dinheiro nos transforma em alguém.
Os elementos apresentados são tão irreais/artificiais, que o espectador se sente distante, não conseguindo se identificar com nenhum dos personagens apresentados, assim como também não consegue escolher um lado, ou ter uma visão do que é certo ou errado. Se até alguns instantes antes do capítulo 9, achávamos Grace uma estrangeira solitária e perdida que estava sofrendo maus tratos por parte de toda a população de Dogville, quando o final começa a se desenvolver e sua personalidade é revelada, toda a construção intelectual que se havia criado até o momento, é desfeita. Há um massacre que explode na tela e no plano mental de quem assiste.
O interessante de se perceber nesse instante é que nada acontecia em Dogville até a chegada de Grace, nesse ponto, há o que se fazer, e então começa a se desenvolver uma ação dramática. Há um presente vazio; E apesar da interpretação naturalista dos atores, seus personagens não são muito humanos, como fica claro na cena final, o que acaba com o conceito de verossimilhança proposto no drama convencional.
Por outro lado, foi o passado de Grace que deu continuidade ao desenvolvimento da trama, a curiosidade dos habitantes em saber quem era aquela mulher e porque ela estava ali, marcando assim o desfecho do filme, que se assume como dispositivo narrativo ilusionista. Lars Von Trier nos lembra que toda a trama que acabamos de assistir não passa de ficção.
Apesar da falta de um cenário material, o estranhamento visual no espectador só acontece nos primeiros capítulos, quando a história parece ainda não ter um conflito definido; depois, passamos facilmente a fazer parte daquele lugar, montando mentalmente cada espaço em branco.

Um comentário:

Rafaela Gomes Figueiredo disse...

lembro de q qdo vi esse filme, fiquei bastante irritada!
achei a N. Kidman uma louca total e fiquei revoltada com o final!
hahahah

mas, sim, a proposta desse movimento (não sei o quê 95, né?) é bem interessante.

^^