segunda-feira, 21 de junho de 2010

“A arte tem de fazer parte da nossa vida quotidiana senão não é honesta” (Bill Viola)




[Fotossíntese Invertida]

Processamento e síntese

As fotografias apresentadas, segundo Arlindo Machado, são reconhecidas como imagens eletrônicas, não têm valor de documento, muito menos de reprodução da verdade. Porém, no referido trabalho não há manipulação digital e nenhuma alteração foi feita desde que tais imagens foram capturadas pelo obturador da câmera digital.
Editadas no seu próprio conteúdo imagético, essas fotografias se oferecem como um “texto” para ser decifrado ou “lido” pelo espectador e não mais como paisagem a ser contemplada. Elas pretendem tirar o presenciador da posição passiva de meditador e fazer com que esse se sinta instigado a entender melhor o que lhe é apresentado, que nada mais são do que reproduções do cotidiano apresentadas numa outra perspectiva, consideradas fora de um padrão dito “normal”.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Dogville



Inspirado no teatro épico de Brecht, Lars Von Trier traz como proposta estética uma mistura da linguagem da literatura, do cinema e do teatro para a criação do principal conceito de Dogville.
Com uma linguagem alegórica, o filme traz ao ápice questões contemporâneas como a experimentação e a performance, além da forte crítica à sociedade capitalista, onde o dinheiro nos transforma em alguém.
Os elementos apresentados são tão irreais/artificiais, que o espectador se sente distante, não conseguindo se identificar com nenhum dos personagens apresentados, assim como também não consegue escolher um lado, ou ter uma visão do que é certo ou errado. Se até alguns instantes antes do capítulo 9, achávamos Grace uma estrangeira solitária e perdida que estava sofrendo maus tratos por parte de toda a população de Dogville, quando o final começa a se desenvolver e sua personalidade é revelada, toda a construção intelectual que se havia criado até o momento, é desfeita. Há um massacre que explode na tela e no plano mental de quem assiste.
O interessante de se perceber nesse instante é que nada acontecia em Dogville até a chegada de Grace, nesse ponto, há o que se fazer, e então começa a se desenvolver uma ação dramática. Há um presente vazio; E apesar da interpretação naturalista dos atores, seus personagens não são muito humanos, como fica claro na cena final, o que acaba com o conceito de verossimilhança proposto no drama convencional.
Por outro lado, foi o passado de Grace que deu continuidade ao desenvolvimento da trama, a curiosidade dos habitantes em saber quem era aquela mulher e porque ela estava ali, marcando assim o desfecho do filme, que se assume como dispositivo narrativo ilusionista. Lars Von Trier nos lembra que toda a trama que acabamos de assistir não passa de ficção.
Apesar da falta de um cenário material, o estranhamento visual no espectador só acontece nos primeiros capítulos, quando a história parece ainda não ter um conflito definido; depois, passamos facilmente a fazer parte daquele lugar, montando mentalmente cada espaço em branco.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Trilogia das Cores - A liberdade é azul



Análise das personagens

O filme A liberdade é azul apresenta poucos personagens importantes para a construção da narrativa: Julie – a protagonista, sua mãe, seu falecido marido (Patrice) e a sua falecida filha (Anna), o amigo do marido (Olivier), a amante, e a nova vizinha; e esses passam muito poucas informações a respeito de suas personalidades.
Julie quer ser aceita num grupo social, ou simplesmente ser importante na vida de alguém, e descobre isso logo após o acidente que lhe tirou a família. Sem eles, Julie sente-se deslocada. Ela procura por um elo próximo, no caso, sua mãe, mas essa já não reconhece a própria filha. Com essa rejeição, ela vai procurar o amigo do marido, Olivier, que diz que a ama, entretanto, ele se mostra mais preocupado com a finalização do concerto para a grande festa da Europa do que com as vontades de Julie, como por exemplo, de abandonar a composição de Patrice, que era um famoso compositor.
Julie era apenas uma sombra do marido, ela o ajudava a compor e nunca foi reconhecida por isso. A aflição ainda se agrava quando Julie descobre que Patrice a traía com uma advogada, a qual espera um filho dele. Seu marido amava a amante, e com isso, a esposa fiel se vê de forma menos importante, até mesmo dentro de sua própria família.
Julie só consegue se sentir livre embaixo da água, no completo azul. A piscina vira seu refúgio para escapar de sua solidão existencial, do que acontece no mundo exterior, visto que a personagem não consegue enfrentar seus problemas de frente, evitando assim qualquer tipo de transtorno que possa lhe afligir futuramente.
A protagonista da história se mostra dona de uma personalidade dividida, pois ao mesmo tempo em que procura por um ciclo social, ela foge do mesmo, mantendo relações superficiais. O que fica claro quando a personagem encontra em sua mãe uma fuga para conversar, pois sabe que a mesma não irá lembrar-se dos diálogos ocorridos.
Essa característica da personalidade de Julie monta o ritmo e o andamento do filme. Como não há muitos diálogos, o autor se utiliza de certos elementos que irão guiar Julie a tomar e/ou pensar em alguma decisão concreta para sua vida, como por exemplo, quando sua mãe lhe diz que não se deve renunciar ao nada, ou ainda, quando o flautista da rua diz que devemos nos prender a algo.
E é essa personagem vazia e angustiada, quem constrói a funcionalidade da história. É a partir dela que vamos ligar os fatos e compreender a mensagem que o filme nos apresenta.
“[...]Ela é claramente distinta e hierarquizada como a personagem principal, mesmo sem o acréscimo de nenhum comentário explícito” (Yves Reuter).
Contudo, o filme não se passa apenas pelo olhar da personagem principal, como podemos perceber na cena em que Olivier está vendo as coisas do arquivo pessoal de Patrice no carro, o espectador fica sabendo antes de Julie que seu marido tinha uma amante, ou pelo menos, é o que se imagina pelo contexto das fotos exibidas.
Julie tenta não exteriorizar a dor que sente pela perda do marido e da filha, e para isso se desfaz de todos os objetos que pertenceram a sua família, tentando assim, apagar o seu passado. “Trata-se de desfazer o espaço, tanto quanto a história, a intriga ou a ação” (Deleuze).
A mesma música é tocada diversas vezes em ritmos variados, o que exalta a memória do falecido marido e desencadeia a continuidade do filme, mostrando que alguma coisa está sendo feita, e que ainda há alguma esperança.
Enfim, o filme se dá pela falta de alguma perspectiva na vida de Julie, e que ainda a motiva a viver.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Disturbia (D.J. Caruso) - 2007


[Apenas mais uma das milhares de críticas sobre o filme]

Janela Indiscreta em versão moderna e digital é como poderíamos definir esse filme de puro merchandising que faz uso de todos os vícios tecnológicos da atualidade: filmadoras, Ipods, Itunes, Games em rede, etc. Em suma, um grande clichê.
Assim, Paranóia acabou se saindo como uma tentativa frustrada de “homenagear” um grande clássico de Hitchcock. Pouco criativo e nada inteligente, o filme conta com personagens desinteressantes que não concedem vida ao projeto, e não dão a fluidez necessária para o desenvolvimento da dramaturgia supostamente proposta pelo diretor.
Utilizando um lugar pequeno para passar sua história, o filme preocupa-se na criação do mito e afins, se tornando “assistível”. Mesmo trazendo no roteiro temas ligados a adolescência, a narrativa não consegue aproximar o espectador dos protagonistas, deixando a desejar o desenrolar da história.
Quanto ao trabalho do diretor D.J. Caruso (o mesmo autor de Roubando Vidas e de Tudo por dinheiro), esse, mostra-se competente no filme em questão. A forma com que estabelece uma identidade a Kale, através de coisas triviais, ao mesmo tempo em que insere piadas sobre coisas de adolescentes é eficaz, imprimindo tensão em várias partes (com auxílio de montagens). Porém, o filme parece pular abruptamente no tempo, quando na verdade só se passam algumas horas, ou apenas um dia.
A suspeita de Kale que seu vizinho é um assassino surge de forma inusitada e até mesmo ridícula, bem como seu novo hobby de espionar o comportamento e a rotina da vizinhança.
A trilha sonora é fraca, não combina com as cenas exibidas. Há um erro visível, gritante e imperdoável do microfone em cena.
Enfim, é um filme fraco, com pouco ou nenhum conteúdo.